Cadê o respeito e a sororidade? (Pós-F, Fernanda Young)

   Aí se vai mais uma leitura que eu esperava uma coisa e na verdade foi completamente diferente. Pra quem não sabe, venho me interessando por políticas sociais já faz uns meses e o feminismo, que parecia algo bem radical pra mim, passou a ser algo que eu totalmente me identifico, então estou lendo mais e mais livros sobre pra aprender bastante. O problema foi eu não saber inicialmente que esse livro na verdade é o contrário de feminista.

Pós-F
Fernanda Young
Editora: Leya
Ano: 2018
Páginas: 128
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Sinopse: Fernanda se dirige a qualquer ser humano que habite nosso planeta neste século XXI, seja homem ou mulher. Como alguém que reúne diferentes perfis e concilia papéis aparentemente opostos, ela fala abertamente sobre a própria vida com o intuito de se posicionar sobre liberdades e responsabilidades – sem jamais deixar de combater o machismo em nossa sociedade. Sua preocupação central, no entanto, é superar polarizações para construir algo maior, em que caibam todos os gêneros. O objetivo de Fernanda Young não é ter a palavra final, mas contribuir com o debate – defendendo não a sua opinião, mas o direito de tê-la. Pois ela insiste que o ponto central de toda essa discussão deveria ser o respeito ao outro, algo que continua sendo desmerecido em nome de uma bipolaridade. É por isso que no mundo Pós-F. não há mais a necessidade de discursos e atitudes radicais: masculino e feminino se dissolveram num universo de encontros de desejos, sem interdições ou medos.
*Exemplar cedido em parceria com a editora 



   Neste livro, a autora Fernanda Young, que eu ainda não conhecia, vai falar como sua visão de mulher e não feminista deve ser também entendida. O livro é curto e grosso, no sentido real da palavra mesmo. O feminismo é bastante criticado durante todo o livro e eu sei que o ponto da autora ao escrever assim pode ter sido justamente criticar um lado extremista do feminismo que até eu não concordo.

   O que mais me pegou nessa leitura foi a falta de respeito com o leitor (irônico já que ele propõe respeito na sinopse). Ok, Fernanda quer mostrar um lado do feminismo com que ela não concorda, mas pareciam mais pedradas e pedradas e crucificando quem acredita no feminismo. O que é o feminismo, afinal? É simplesmente a igualdade de gênero não somente no tratamento, mas aí entra outros assuntos, que Fernanda faz questão em criticar também.


   Ali faltou sororidade. Um negócio que não é preciso ser feminista pra praticar. Não é crucificando mulheres pelas suas escolhas que chegamos em um consenso pela melhoria da sociedade, sabe? Em várias páginas a autora fala de assédio como se falar disso fosse simples. Como se desse pra falar e não ser responsável. Respondendo eu mesma à pergunta feita pela Fernanda em um dos capítulos: sim, se um homem te assobia ou fala coisas de você na rua, nem que seja um elogio é sim assédio. É assédio porque não é um ambiente propício. É assédio porque temos medo de andar na rua e justamente pelo caráter da maioria dos homens que costumam lançar o flerte assim de sermos machucadas. Acontece todos os dias, bem sabemos.



   O livro vai bem além disso. Fala do papel da mulher como dona de casa e critica fortemente as escolhas que sinceramente: não é da conta da Fernanda Young, pois independente de ser mulher ou homem, devemos escolher o que queremos das nossas vidas. Esse livro foi uma porcaria pra mim e pra tantas outras pessoas que também leram e me contaram que sentiram o mesmo ódio que eu. Sinceramente, esse é o primeiro livro que digo que não merecia jamais ser publicado - e olha que admiro demais a editora Leya pelas publicações maravilhosas. Não quando se é um insulto e um gatilho como foi pra mim. Eu, como resenhista, sinto que independente de qualquer outra coisa tenho o dever de contar pra vocês o que achei da obra. Essa é minha mera opinião.

Comentários

  1. Oi, Clarissa
    Eu não me considero uma pessoa totalmente feminista porque não sou 100% apegada a causa, mas eu vejo tanta coisa absurda e radical que eu tenho o mesmo pensamento que algumas mulheres e alguns homens. O problema de tudo é o extremismo. Se as coisas não são dosadas, evidentemente que haverá um abuso dela e eu vejo muita mulher usar o feminismo pra fazer discursos totalmente absurdos para justificar suas palavras.
    Ainda não pude ler nada verdadeiro sobre o tema mas tenho Quem tem medo do feminismo negro aqui, quem sabe um dia eu leia.

    Beijo!
    http://www.capitulotreze.com.br/

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    1. O extremismo que acaba com todo o movimento, fico bem triste com a imagem negativa que criaram do feminismo. Quero muito ler Quem tem medo do feminismo negro!

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  2. Oi Clarissa!
    Feminismo é um assunto bem polêmico né?? Acho que como autora, não é legal impor uma opinião criticando algo em que muitas pessoas acreditam e lutaram para conseguir, isso realmente não é muito legal, como você disse... e acho que o extremismo também não faz bem de modo algum. O respeito é a melhor maneira de entendermos as opiniões do outro. Amei sua resenha
    Grande beijo e Feliz Natal!
    EVENTUAL OBRA DE FICÇÃO

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    1. Concordo totalmente. Não dá pra impor assim e ainda por cima jogar pedra nas mulheres!

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  3. Olá, Clarissa.
    Que pena que existam livros como esse. Com certeza vou passar longe. Eu me considero uma feminista. O que eu acredito ser o feminismo, que é simplesmente ter direitos iguais e ter principalmente a liberdade que nos é negada desde sempre. Claro que em tudo e no feminismo também não poderia deixar de ter, existem pessoas que passam do ponto, mas essas pessoas não representam o feminismo.
    Feliz Natal!

    Prefácio

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    1. Sim sim, são pessoas assim que acabam com a visão do feminismo e nossa luta é diminuída :(

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  4. Oi Cla!
    Eu conheci a Fernanda numa palestra dela na FLIP sobre feminismo e fiquei chocada com a postura dela também, todavia muito do que ela faz são coisas vistas como feministas. Acredito que este atrito seja parte do choque de gerações - hoje em dia feminismo é uma palavra muito mais bem vista que 30 anos atrás. Acho a Fernanda muito inteligente, mesmo discordando dela nesse ponto.

    beijos
    http://sophiesamiesarfati.blogspot.com

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  5. Essa leitura também me causou um terrível incômodo. Porque a minha impressão é que a Fernanda não parece ter lido tudo que ela diz ter lido. Porque há vários equívocos bem primários, inclusive quando ela diz que a existência do feminismo geraria o machismo (WTF!? ) E coloca os dois como opostos, quando é básico que o feminismo é equidade e o machismo é opressão. Acredito sim que uma pessoa possa ter uma opinião e criticar o movimento, mas me parece q Fernanda não possui as ferramentas necessárias para construir ou melhor desconstruir alguns conceitos. Eu só vejo ela dar munição para deslegitimar o movimento e tornar a questão que é complexa por demais em simples "ódio aos homens" ou "binarismo".

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