Para enfrentar o monstro de dentro do seu armário...

           Faz muito tempo que venho querendo escrever esse post e já tentei mil vezes escreve-lo, mas eu sempre chegava no fim e desistia de postar. Acho que porque nunca escrevi algo tão pessoal aqui e a possibilidade de abrir o jogo sempre foi tão próxima, mas tão distante da minha realidade. Foi aí que eu pensei no propósito do blog. Desde o início eu pensava no Próxima Primavera como meu espaço, um tipo de porto seguro já que eu sou bem melhor em expressar o que sinto e penso por escrito - amo escrever mais que tudo. E eu cheguei à conclusão que sim, é preciso. Você que está aí precisa ler o que eu tenho a dizer. Não sou uma mestre do português e nem mesmo uma pessoa que passou por mil experiências nessa vida. Mas acho que as que eu passei servem como exemplo.

Em 16 anos de vida eu sempre tive uma vida "normal". Entre aspas claro, porque todo adolescente procura ao máximo complicar sua vida de algum jeito. Tudo pode estar perfeitamente bem, mas sempre vão encontrar algo para reclamar. Pode assumir que é a pura verdade. Eu aos 15 anos e meio não tinha absolutamente nada pra reclamar, eu estava no 2º ano do Ensino Médio e minhas notas eram boas, mesmo com minha dificuldade enorme em matérias de natureza. Mas como eu disse: todo adolescente vai arrumar uma dificuldade. Na época eu adorava discutir sobre minha liberdade. Eu queria sair e fazer o que as outras pessoas da minha idade faziam, meus pais muito sábios e com consciência não me deixavam sair à noite e viviam me perguntando com quem eu andava. Não é da conta deles, eu pensava. Esse era o tipo de problema que eu enfrentava lá pelos meus 15 anos.

 "Mas pai eu já tenho 15 anos!" Grande coisa.

Mas aí tudo mudou de uma hora pra outra como um choque. Era Junho de 2015 quando eu fui ao oftalmologista fazer uns exames de rotina e no fundo eu já queria o exame porque sentia que minha visão não estava normal. Eu enxergava bem mesmo sem o meu óculos de 0,25 graus de miopia, mas não era isso que me agonizava. Era uma outra coisa que eu queria que ele me dissesse o que era. Foi lá que eu descobri que eu tinha um desvio no meu olho direito que por acaso do destino nunca esteve ali antes. Se eu pudesse mandar uma mensagem pra eu de Junho de 2015 ela seria a seguinte: "se prepara, minha amiga que lá vem bomba". Eu não sabia disso. Na verdade, eu achava que seria uma coisa simples que não ia me atrapalhar em nada porque muita gente nasce com desvio e tá aí super bem na vida. Eu lembro de todos os encaminhamentos que me fizeram. Todos eles. Como esquecer? Migrei de médico em médico e hospitais diferentes do Recife. Oftamologistas, neurologistas, clínicos gerais e endocrinologistas. Fui parar até em psiquiatra. Isso sem falar da tonelada de exames que eu fiz. Muitos eu só tinha ouvido falar em filmes tipo A Culpa é das Estrelas e outros que quase ninguém conhece. Não consigo me lembrar de todos os exames que fiz, pois foram MUITOS em 1 ano e 5 meses de agonia. Os únicos que eu consigo me lembrar e que sei que vão me marcar pro resto da vida são a ressonância magnética e a eletroneuromiografia. Sou uma pessoa extremamente claustrofóbica e fazer TRÊS ressonâncias magnéticas foi o ápice da minha loucura. Eu enfrentei meu medo três vezes. Mas depois da terceira vez eu pensei um "ufa! agora não tem mais" (iludida, tenho mais uma marcada ja) e aí me veio a tal da eletroneuromiografia que eu só faltei morrer pra não fazer. Pra quem não sabe, o maior medo da minha vida é agulhas. Tenho pavor de agulhas, sangue e cirurgia. Pavor tipo de chorar mesmo. E tenho certeza que você nunca ouviu falar da eletroneuromiografia, mas saiba que nela você leva """pequenos""" choques em regiões sensíveis como o pulso e os pés pra ver a reação dos nervos. Choque? Que nada, foi super de boas. A segunda parte do exame eu nem te conto! Agulhas enfiadas nos seus nervos!!!! E pra completar: elas não ficavam lá paradas não, a médica tinha que mexer e cutucar lá e eu acho que nunca senti tanta dor na minha vida.

Mas nem é disso que eu quero falar...

Dentre tantos exames e sofrimentos você deve estar aí se perguntando o que eu tenho afinal. O diagnóstico, por favor.

Bem, eu gostaria de saber também. O motivo de tantos médicos e exames pode ser explicado por uma palavra: nada. Não encontraram NADA! Não sei se é pior você saber o que tem ou não saber. No fim, desistiram de tantos exames e o fluxo diminuiu. Me diagnosticaram com estrabismo sem causas (raro demais). Na época do diagnóstico eu já não enxergava nada. Depois que fui ao primeiro médico em Junho de 2015 só fiz piorar, depois de uns meses eu já via tudo duplo literalmente. Sabe quando colocam dedos na sua frente e te perguntam quantos tem? Eu sempre ria disso. Quem vê mais do que tem? Eu.

Tive que lidar com bullying pela primeira vez na minha vida depois de velha. Eu virei uma vesga do nada, é normal as pessoas estranharem até porque EU estranhei. Imagine você começar a ver tudo diferente depois de ter passado 15 anos vendo normal? Completei 16 anos com estrabismo sem causas.... Completei 17 com estrabismo sem causas e um pequeno tumor na hipófise que a última ressonância mostrou.

Da pra perceber que foi tudo virado de cabeça pra baixo? Minha rotina mudou drasticamente. Eu estava indo bem na escola em 2015 e depois eu afundei e cheguei na recuperação final em 5 matérias. Eu não enxergava nada, oras. Ah, além disso eu também vivia com enjoos e cansaço. Eu me chamava de Hazel Grace sem câncer naquela época. Eu quase reprovei. Quase porque convenhamos que é impossível uma boa aluna ser reprovada.

Na virada do ano pra 2016 eu já sabia que esse ia ser o ano que eu deveria jogar as cartas na mesa de verdade. Eu iria ignorar tudo isso e passar por cima sendo aprovada na federal e fazendo um bom 3º ano. Não consegui nada. Que iludida eu era. Creio que comparar 2015 com 2016 é que nem comparar água e vinho. Comparação bem bosta mas é bem assim que me sinto.

A pressão de 3º ano é bem pesada pra todo mundo né? Agora imagina essa pressão multiplicada por mil. Imagina ter que prestar atenção nas aulas sem enxergar nada, ter enjoo todos os dias, faltar aulas por causa de médicos e exames e ainda ter uma carga extrema de ansiedade no corpo? Virei um caos. Eu me desesperava a cada 2,5 em Física. 4 em Matemática. 5 em Português. Logo em Português que eu amo? Não pode ser! Perdi a conta de quantas vezes chorei na psicóloga da escola por não aguentar mais, perdi a conta também de quantas vezes pensei em desistir. Perdi a conta de quantas pessoas não me apoiaram nesse momento. Sabe seus amigos? Aqueles que sempre tão contigo nas horas boas? Bem... pode ser que eles não estejam nas ruins. Esse ano foi definitivamente o xeque mate. Desacreditei, acreditei e desacreditei de novo em tudo que eu eu acreditava.

Agora, faltando exatos 23 dias para a formatura, estou escrevendo isso pra dizer que toda dificuldade pode e deve ser superada. Sofro todos os dias com o peso de ser a pessoa que mais ficou em recuperações finais no 3º ano em 2016 (5 matérias de novo). Sofro por ter a escola no meu pé todos os dias fingindo que eu estou 100% de saúde. Sofro por ter que lidar com comentários de pessoas que "não acreditam" que eu mudei tanto. Mas o mais importante: sofro por não poder mudar o que está acontecendo. Infelizmente sou apenas a vítima que espera pela justiça. A minha justiça é todos entenderem que as dificuldades do próximo devem ser entendidas e aceitas. É por isso que eu finalizo dizendo que o primeiro passo para enfrentar as dificuldades deve ser a aceitação para superação. E quando isso não acontece eu sinto dizer, mas nada vai mudar. Se você passa por alguma dificuldade, só vive sozinha não vai fazer muito progresso. Você precisa de apoio. Um apoio verdadeiro e que você possa realmente se sentir confortável e finalmente dizer "isso? ah, é besteira! eu consigo!"

Comentários

  1. Nossa, Clara. Não imaginava que você já tinha passado por tudo isso.
    Obrigada pelas dicas! Esse ano fui muito difícil pra mim e eu ainda estou com uma dificuldade extrema de seguir em frente...
    Te desejo tudo de bom!

    Um beijo.
    www.anneabreu.com.br

    ResponderExcluir
  2. Oiii Clara! Eu sempre acredito que pra tudo na vida há uma solução, por mais difícil que seja! E a vida é uma caixinha de surpresas que não sabemos o que pode vim amanhã ou depois, porém é sempre bom acreditar que o impossível se torna possível se a gente quiser, então por mais difícil que seja a situação nunca desista, porque sim! Terá pessoas que irão te ajudar e outras como você disse, irão sumir do nada, mas você irá aprender com cada uma delas :D Eu desejo do fundo do meu coração que você melhore e que você continue enfrentando a vida e os problemas sempre com pensamentos positivos e que você pode vencer a cada luta <3 Eu amei o texto e quero que você faça mais hahaha mesmo que seja situações bobas da vida, compartilhar experiências é compartilhar amor <3

    *Miiiil Beijokas <3

    -Hellen Barros.

    ResponderExcluir
  3. Geeente, que trampo que você enfrentou! Virei sua fã! Também odeio agulhas e hospitais, então imagino o pavor que foi! É incrível como algumas coisas podem mudar em pouco tempo, por isso temos que aproveitar e agradecer enquanto está tudo bem. Mas yayyy, você vai se formar, parabéns! Toda dificuldade uma hora vai ter que ser enfrentada e vencida, e tudo vai passar. A gente nunca acredita, mas passa ^_^ Espero que dê tudo certo daqui pra frente, e com certeza vai ^_^
    Beijos!!!
    http://tipsnconfessions.blogspot.com

    ResponderExcluir
  4. Oii Clara, quanta coisa você enfrentou ein menina?! Mas o importante é que apesar de tudo isso, agora você está bem e já está quase se formandoooo! Adorei poder te conhecer melhor através desse texto <3

    Beijos
    Blog Mente Viajante

    ResponderExcluir
  5. Oi, Clara! Tem momentos em que a gente precisa mesmo colocar pra fora o que estamos sentindo, o que nos incomoda. Você passou por muitas coisas e de um jeito ou de outro conseguiu sair da situação inteira. Desejo que essa força esteja sempre presente em você (porque chorar e se desesperar não é sinal de fraqueza, você é só uma menina!) e que os verdadeiros amigos e sua família estejam por perto quando você precisar de apoio.

    Beijos, Entre Aspas

    ResponderExcluir
  6. Imagino como é... na verdade eu tenho um problema das minhas irmãs serem 10 e 12 anos mais velhas do que eu, e na época as duas se formaram muito jovens e eu... não segui o caminho delas hehe. Pensa, fui chamada de tudo!!! Uma pressão só!!

    Bjinhos,
    ❥ AmigaDelicada.com.br

    ResponderExcluir
  7. Nossa Clara que foda! :(
    Uma pena você ter tido toda essa pressão no 3° ano, graças a Deus meu 3° na escola foi o ano em que eu mais fiz bagunça e me diverti, nunca na vida tive pressão pra estudar.
    Mas quem tem deve ser bem ruim...
    Que foda ter que passar por todos esses exames e dificuldades, mas acredite tem coisa muita boa esperando por você no futuro. Espero que você melhore logo e que tudo se ajeite. Que Deus te ilumine sempre <3

    https://heyimwiththeband.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir

Postar um comentário

❤ Proibido usar palavras de baixo calão
❤ Não há moderação de comentários
❤ Deixe o link do seu blog para que eu também possa visitá-lo e segui-lo no Google Friends Connect!